Projeto exibe acervo do último governo da Alemanha Oriental

Regime de transição foi primeiro eleito democraticamente na Alemanha Oriental e ficou menos de seis meses no poder. Gabinete liderado por Lothar de Maizière é tema de portal online, que expõe documentos e fotos da época.

defaultSessão do primeiro Parlamento eleito democraticamente na Alemanha Oriental, em 1990

“Nós éramos atores amadores, mas éramos bons atores amadores”, diz Herbert Schirmer. Maquinista por formação, livreiro e jornalista, ela era um nome conhecido na cena cultural da Alemanha Oriental. Mas se tornou famoso por outro emprego: ministro da cultura nos últimos meses de existência do país.

Vinte e cinco anos depois da formação do último governo da Alemanha Oriental, ele se encontrou pela primeira vez com seus ex-colegas. São membros do gabinete de Lothar de Maizière, nas instalações da Fundação Federal para Avaliação da Ditadura do SED (Partido Socialista Unitário da Alemanha Oriental), a convite de Anna Kaminsky, diretora da instituição, e da atual ministra alemã da Cultura, Monika Grütters.

A reunião ocorreu durante a apresentação do projeto multimídia

Aufbruch und Einheit – Die letzte DDR-Regierung

(“despertar e união, o último governo da RDA”, em tradução livre), sobre o primeiro – e último – governo da Alemanha Oriental eleito democraticamente.

O projeto permite, pela primeira vez, o acesso ao público a cem documentos originais, 200 fotos e 50 vídeos, além de entrevistas de testemunhas da época, através da internet. Kaminsky afirma que o site deve não só documentar o trabalho dos 23 ministérios, que permaneceram menos de seis meses no poder, mas, especialmente, também servir como uma homenagem.

Deutschland Kabinett De Maizière Berlin 1990

Reunificação na perspectiva oriental

“Um ponto sensível para os ex-ministros e secretários de Estado é que a pesquisa histórica da Reunificação ainda é baseada num mito”, argumenta Markus Meckel, ministro do Exterior da Alemanha Oriental entre abril a agosto de 1990. “O mito é que o Muro caiu e, então, Helmut Kohl veio e fez a unidade”, afirma.

Meckel diz que até hoje sente falta de uma narrativa histórica sobre o último governo da Alemanha Oriental e sua relação com a unidade alemã. “Nele, não somente ocorreu um processo de unificação, mas também começou uma transformação.”

Ele destaca que a tarefa daquele governo era modelar e construir uma democracia, do zero, a partir de uma ditadura. “Através dessa documentação, pela primeira vez, o foco sobre a negociação da Reunificação é colocado na política do lado oriental desse processo. E, assim, nos torna cientes de que houve um processo de negociação.”

A visão do lado oriental das negociações não era, entretanto, uniforme. A coalizão eleitoral que surpreendeu ao vencer as eleições, a “Aliança para a Alemanha”, reunia, ela própria, diversas correntes políticas.

E, para formar um governo, ela ainda teve que se unir em coalizão ao Partido Social-Democrata da Alemanha Oriental e aos liberais. Em 12 de abril de 1990, era confirmado, oficialmente, o novo governo da Alemanha Oriental, com Lothar de Maizière como primeiro-ministro. O governo de transição era uma reunião de diversas forças políticas, com uma tarefa política específica, e não chegava a ser um círculo de amigos.

A solidariedade suprapartidária não durou muito tempo. Todos sabiam o que não queriam, mas as divergências começaram a surgir quando a tarefa era definir o que se queria realizar.

Deutschland ehemaliger Außenminister der DDR, Markus MeckelEx-ministro Markus Meckel: “pesquisa histórica da reunificação alemã é baseada num mito”

 

Um problema no último governo da Alemanha Oriental não era apenas sua fragmentação interna. Muitos ministros não tinham experiência alguma de governo e administração. E eles tinham tarefas árduas, como estabelecer eleições locais, elaborar novas diretrizes públicas, segundo princípios democráticos.

“E, de repente, vem um homem e diz: ‘Meu Deus, estes atores amadores. Não poderíamos substituí-los, de alguma forma?'”, lembra Schirmer, citando o então governador do estado alemão-ocidental da Baviera, Max Streibel. O comentário tocava no sentimento de inferioridade nutrido pelos alemães orientais. “Aquilo soou meio estranho”, destacao ex-ministro.

Hoje, Schirmer vê a coisa se forma mais descontraída. “O homem tinha razão. Afinal, éramos, sim, atores amadores.” Mas o que o persegue até hoje é a ideia de que a autoconfiança alemã-oriental foi crescendo em algum momento.

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Publicado originalmente em DW

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